Retomada em 3, 2, 1…

Sim! Mais uma vez, sim! Estou aqui novamente, depois de mais de 3 anos, de repente senti uma vontade enorme de retomar esse espaço, que tem sido meu há anos, mesmo não cuidando assiduamente dele.

Em 3 anos muita coisa aconteceu. 2021 marcou o início de uma nova vida para mim. Após 20 anos morando na mesma cidade, meu marido e eu decidimos dar um passo decisivo e procurar novas oportunidades. Foi então que nos mudamos do sul de Minas Gerais para Vitória/ES, uma cidade que há dez anos era apaixonada. E fomos tão bem recebidos! Nossos amigos foram essenciais para podermos nos instalar e nos adequar à vida em uma cidade diferente, bem no meio da pandemia. Ali estávamos perto de poucos conhecidos, mas os poucos foram uma bênção para nós.

Ah, a pandemia! Quantas pessoas sofreram, quanta angústia passamos! Era uma preocupação sem fim com nossos parentes e amigos. Mas, felizmente no nosso caso, fomos abençoados e não perdemos ninguém, nem na minha família, nem na do meu marido. Olho para o copo meio cheio quando se fala da pandemia, pois foi por causa dela que saímos da zona de conforto e enfrentamos muitas mudanças. A mais dolorida foi ficar longe da nossa filha por um ano inteiro, mesmo que ela estivesse em bons cuidados.

Durante nossa estadia em Vitória, comecei meu mestrado em Engenharia Elétrica na UFES e conquistei uma vaga de trabalho 100% remota. Um ótimo salário, que me fez desistir de uma bolsa integral e dividir meu tempo entre trabalho e estudos (de novo). E são aquelas decisões que você acha que foram erradas, mas que no final provam ser a ideal. Ou te conduzem a outras decisões. Por algumas razões íntimas, decidi não finalizar o mestrado, já em fase de desenvolvimento da dissertação. Uma nova oportunidade de trabalho para meu marido nos fez repensar os projetos e eis que nos mudamos novamente, agora para a Europa. Portugal foi nosso próximo destino, um ano após a mudança para Vix. E sou eternamente grata por tudo que aconteceu conosco lá.

A vinda para Portugal foi turbulenta, primeiro meu marido se mudou sozinho. Alguns meses se passaram até que nos juntamos a ele. Foram meses de expectativa e pouco se desenrolou. Não é uma situação que gostaria de viver novamente, muitos projetos parados aguardando definição. Mas a mudança chegou e juntamos nossas coisas para enfim retomarmos nossa vida. Porém, o trabalho exigiu meu retorno ao Brasil. Novamente me afastei da família que criei e me juntei à família que me criou.

Meus pais e irmãs foram essenciais em mais um período de afastamento. Mas novamente procuro ver o copo meio cheio e foi um momento de repensar uma vida toda, de me redescobrir. E mais uma mudança estava em curso. Por mais que a vida em Portugal fosse boa, ainda não era ótima. Então uma nova oportunidade nos trouxe para a Holanda. Alguns outros meses de espera e finalmente estou em casa. Sem minha filha, que ficou para estudar em Portugal, mas agora retomo minha casa e recomeço uma vida.

Ou melhor, retomo de onde ela parou. Mais consciente de quem sou e de que sou o resultado de todas as decisões que tomei. Ainda estamos em processo de adatptação, montando a nossa casa aos poucos, mas uma coisa já tenho de diferente: a sensação de que este sim pode ser nosso lugar por muitos anos, talvez definitivo, o que me anima a retomar alguns projetos, a mobiliar uma casa e pensar mais concisamente no futuro.

A Holanda tem seus desafios, o idioma é o principal deles. Cada ida ao mercado é uma saga. Achar os produtos necessários, estabelecer novos padrões gastronônicos e culturais, achar meu lugar. É um aprendizado sem fim. Muitos me perguntam qual o sentido de recomeçar em um lugar tão diferente, mas a resposta já vem na pergunta, pois é justamente o “tão diferente” que torna o desafio excitante. Fácil, jamais. Mas estou disposta e passar por tudo para ter uma boa qualidade de vida, talvez o mesmo padrão em questões financeiras, com as perdas que um expatriado sofre, mas que são compensadas diariamente pelo tanto que aprendo.

E falando em aprendizagem, claro que não poderia ficar parada. Começo uma nova etapa de estudos com uma pós-graduação, que espero em breve falar mais por aqui. Como se não bastasse ter tanto a aprender no dia-a-dia, um novo idioma, aperfeiçoar o inglês e, de quebra, um curso no Brasil com 5 horas de fuso horário à frente. Mas são os desafios que me movem e eu preciso deles para não enlouquecer.

Pois é por esses desafios que espero retomar a escrita aqui, porque quero desenvolver novas habilidades, reforçar algumas e procurar novas formas de explorar a vida. E porque uma frase que ouvi esta semana me motivou: aprender não é apenas compreender e reter conhecimento. Estas são apenas as primeiras partes do processo. É preciso praticar, disseminar e ainda criar para que o ciclo esteja completo. Existe muito material sobre o assunto na internet que vale a pena ser explorado.

E é por isso que decidi retomar o blog, mesmo sendo um área pouco divulgada e pouco acessada, mas que continua sendo meu para externalizar tudo que se passa na minha cabeça. Talvez novos espaços sejam criados, mais segmentado, para um público-alvo mais direcionado. Porém, ainda preciso definir e praticar para então decidir.

Se você chegou até aqui, obrigada! Falei muito sobre mim e não entreguei nenhum conteúdo válido. Mas se tiver mais curiosidade sobre esses últimos períodos de tantas mudanças, se eu puder ajudar com alguma dúvida, não exite em me perguntar, me sentirei muito feliz em poder ajudar.

Até breve!

Resenha: A Incendiária

Fiz uma publicação no meu Instagram sobre esse livro e as percepções que tive da leitura. Porém, o espaço de lá é pequeno e tive que sintetizar as opiniões. Isso me gerou uma certa necessidade de escrever mais sobre ele e explicar melhor meu ponto de vista.

Sinopse

Uma criança com o poder mais extraordinário e incontrolável de todos os tempos. Um poder capaz de destruir o mundo.  Andy e Vicky eram apenas universitários precisando de uma grana extra quando se voluntariaram para um experimento científico comandado por uma organização governamental clandestina conhecida como “a Oficina”. As consequências foram o surgimento de estranhos poderes psíquicos ― que assumiram efeitos ainda mais perigosos quando os dois se apaixonaram e tiveram uma filha. Desde pequena, Charlie demonstra ter herdado um poder absoluto e incontrolável. Pirocinética, a garota é capaz de criar fogo com a mente. Agora o governo está à caça da garotinha, tentando capturá-la e utilizar seu poder como arma militar. Impotentes e cada vez mais acuados, pai e filha percorrem o país em uma fuga desesperada, e percebem que o poder de Charlie pode ser sua única chance de escapar.

Fonte: Amazon

A história

Publicado originalmente nos Estados Unidos em 1980, “A Incendiária” é um dos livros de início de carreira de Stephen King. Ainda sem a fama de escritor do “terror soft“, King desta vez opta por uma história de ficção científica.

Livro "A Incendiári"
Fonte: acervo pessoal. Livro da Biblioteca do Inatel

A construção do tema, cenários e das possibilidades de desenvolvimento da narrativa são promissoras. O que nem sempre é garantia de sucesso absoluto. E é o que acontece com “A Incendiária”.

 

Fonte: Amazon

Opinião

O comentário que fiz lá no Instragram foi: […] “A Incendiária” deveria ter outro nome, uma vez que parece ser mais a história do pai do que da filha. Andy é de longe mais carismático e mais verossímil que a filha. Charlie é uma menina de 6 anos, mas os diálogos não combinam com a sua idade. Seus poderes parecem falhar quando mais precisa deles, por mais que ainda não tenha controle. Porém, alguns deles não necessariamente dependem dela e ocorrem (ou deveriam ocorrer) de forma natural. A maturidade com que é capaz de suportar as situações é constrangedoramente fora da realidade. A passagem de tempo não colabora no desenvolvimento das personagens e o final decepciona com vontade. A narrativa é arrastada, descreve mais do que conta, enfatiza informações irrelevantes e deixa o leitor à beira de um dilema: abandonar ou não abandonar? […]

Tudo bem brincar com a ideia de realidade/ficção, verossímil/ inverossímil. O que eu acho constrangedor é quando o autor força a barra e apresenta uma situação completamente fora da normalidade mas não explica. Abstraia o fato de Andy e a esposa terem participado de um experimento misterioso, de terem adquirido poderes psíquicos, que sabe-se lá como isso foi transmitido para a filha (alteração genética, talvez?). Mas não explica a maturidade da garota. De onde vem a noção de responsabilidade que é inerente da sociedade e não da natureza? Sabemos que há indivíduos mais “ajuizados” que a maioria, talvez por maior empatia com o entorno, talvez por pura animosidade. O ser humano aprende por imitação e Charlie está bem longe de conviver ou de assistir eventos que lhe garantam tal maturidade.

Para finalizar, a resposta da pergunta sobre a leitura: […] Não abandonei, mas fiz muito uso de leitura dinâmica. Ainda não tenho uma opinião formada sobre King, não é meu escritor favorito, mas ele tem tantas obras que dá para classificar em escala de amor e ódio e tem para todos os gostos.

Minha nota:Duas estrelas

Resenha: Mrs Dalloway

Clarissa e Peter são adolescentes, são amigos e estão apaixonados. O que pode dar errado? Bem, muita coisa, a começar pelo temperamento antagônico de ambos. Enquanto Peter é passional, tendento a agir mais por sentimento que pela razão, dado a rompantes de ciúmes, Clarissa é comedida, pensa antes de agir e sabe muito bem o que quer. Pode-se dizer que é calculista, mesmo que em nossos dias essa palavra tenha uma conotação mais pejorativa. Segundo meu amigo Aurélio (aquele do dicionário):

Calculista: calculador – [1] Que calcula ou faz cálculos; calculante. [2] Aquele que calcula. [3] Indivíduo previdente, interesseiro.

Portanto, pensando no futuro e em seu bem-estar, ela decide casar-se com Richard Dalloway, uma pessoa mais centrada e, portanto, na visão de Clarissa, alguém com maiores chances de lhe garantir um futuro estável.

Porém, não é neste ponto que o livro começa. Mrs Dalloway está andando pela cidade em busca dos últimos preparativos para a festa da qual será a anfitriã, a ocorrer na noite daquele mesmo dia. Uma bela quarta-feira de junho em pleno verão, que traz recordações dos tempos da juventude vividos no campo.

Fonte: Divulgação Amazon

Ainda no cenário externo, somos apresentados a Peter Walsh, recém chegado da Índia, onde foi morar em busca de aventuras e oportunidades de trabalho. Peter encontra-se em um jardim, divagando e ponderando se deve fazer uma visita a Clarissa nesta mesma manhã. É neste cenário, perdido em seus pensamentos, que avista o casal Septimus Warren Smith e sua esposa Lucrezia, ambos personagens importantes no desenvolvimento da história.

Septimus é ex-veterano da Primeira Guerra Mundial. Em sua passagem pela Itália conhece Lucrezia, por quem se apaixona sendo o sentimento recíproco. Lucrezia, perdida de amores por seu príncipe inglês, abandona a família e o país e parte para uma nova vida, distante de tudo que conhece. Porém, ela não contava com os transtornos que o pós-guerra poderiam causar ao amado, provocando alucinações e sentimentos suicidas. A vida do casal não é das melhores, agravada ainda pelo fato de não terem amigos nem familiares próximos.

Devidamente apresentados aos protagonistas, vamos ao estilo. O romance é narrado através dos pensamentos das personagens, transitando sutilmente entre narrativa direta e indireta, alternando entre fatos e lembranças . Este é um estilo conhecido como “fluxo de consciência”, sendo o raciocínio lógico entremeado por impressões pessoais momentâneas.

Aliás, sempre digo que histórias passadas em tão curto espaço de tempo não dão margem para desenvolver bem suas personagens, isso não ocorre nesta obra. Virginia Woolf, explorando muito bem o pensamento de cada envolvido, transita entre passado e presente, elaborando muito bem a personalidade e explicando ao leitor o que levou cada um a estar na situal atual.

Woolf foi ousada ao adotar um estilo tão novo e pouco explorado para a época. Porém, aprofundando-se mais em sua biografia, é possível perceber que foram essas as características mais marcantes em suas obras e que a transformaram em uma das maiores escritoras da era moderna. Não é uma leitura simples, muitos pontos podem passar despercebidos, tanto que a edição que li continha um estudo de caso, elaborado pelo tradutor Tomaz Tadeu, o qual recomendo fortemente, pois muitos aspectos poderão ser melhor compreendidos através dele, como por exemplo o fato de Woolf se espelhar nas suas experiências com transtorno psíquico para elaborar a personalidade de Septimus, uma vez que ela mesma sofreu com alucinações até a morte.

Cabe destacar ainda a genialidade ao trabalhar duas histórias aparentemente sem conexão, de um lado Clarissa e Peter, do outro Septimus e Lucrezia. O fato que os conecta é justamente o suicídio, sendo que Septimus estava a caminho do consultório do médico após mais uma crise severa de apatia e desejo de tirar a própria vida. Este mesmo médico seria um dos convidados de Mrs Dalloway e traria o assunto de seu paciente para a festa mais à noite, gerando uma certa simpatia pelo tema em nossa anfitriã. Mais um paralelo entre a ficção e a realidade, pois Woolf tentara suicidar-se algumas vezes, tendo morrido afogada aos 59 anos.

A relevância da obra não fica apenas no estilo. Woolf explora muitos outros temas considerados tabu para a época. Com Mrs Dalloway discute o papel do feminino na sociedade e a opção pela alienação quanto aos problemas ao seu redor. Clarissa faz do seu estilo de vida uma armadura que atinge, inclusive, a filha.

Quanto a Peter, a discussão sobre a necessidade do homem ser bem sucedido, de não se deixar levar por suas vontades e sonhos. É um paralelo curioso ao comparar os estilos de vida, de um lado Richard Dalloway, homem de negócios e político, com uma família tradicional e bem estabelecida, seguindo à risca a cartilha da alta sociedade da época; do outro Peter Walsh, aventureiro nato, disposto a abandonar tudo para viver um romance e de oportunidades de trabalho e enriquecimento no exterior. O existencialismo está presente tanto nas ações quanto no pensamento.

Mais dois temas tabus são abordados, as doenças psicológicas, apresentada na persona masculina, uma doença ainda muito ligada ao feminino, como eu já havia dito na resenha de Razão e Sensibilidade (Jane Austen), além do homossexualismo/bissexualismo, através da relação entre as amigas Clarissa e Sally Seton.

Este é considerado o romance mais famoso de Woolf, tanto que existe uma data para comemoração, o Dalloway Day, comemorado numa quarta-feira de junho, correspondente ao mesmo dia da festa dada pela nossa protagonista. Qual não foi minha surpresa em descobrir que em 2020 ela foi comemorada ontem, dia 17. Faça uma busca pela hashtag #DallowayDay nas principais redes sociais e confira o que as pessoas andam falando.

A versão digital de Mrs Dalloway está disponível tando no Kindle Unlimited quanto no Amazon Prime Reading. Para comprar você pode acessar este link ou clicar numa das imagens acima. Comprando por este link você contribui com este blog para que novas resenhas sejam publicadas.

Já ia me esquecendo da nota: 4 estrelas

Resenha: Razão e Sensibilidade

Dando uma pausa nas leituras de autoajuda, aproveitando o que está disponível no Amazon Prime Reading, fomos de “Razão e Sensibilidade”, obra de Jane Austen.

É a história das irmãs Dashwood. A morte do patriarca trouxe muitas mudanças para a família. Mr. Henry Dashwood (pai) ao morrer deixou a esposa, três filhas do segundo casamento: Elinor, Marianne e Margaret, além de John, primogênito e único filho do primeiro casamento. John é casado com Fanny e com ambos mora a sogra, Mrs. Ferrars. John herda os bens da família e a incumbência de não deixar as meio-irmãs desamparadas. Persuadido pela esposa, John e família mudam-se para Norland Park, atual residência da segunda família do pai.

Fanny tem dois irmãos, sendo mais velho Edward e o mais novo Robert. Edward é um rapaz tímido, que prefere a vida pacata e não tem aspirações na vida. Porém, vê-se pressionado por mãe e irmã a ter uma vida social ativa e tornar-se uma pessoa importante na política do país. Robert, ao contrário, é boêmio e gosta de curtir a vida na capital Londres.

A convivência entre irmãos Dashwood é amigável, o que não se repete com a cunhada e sua mãe, sempre causando intrigas e fazendo a cabeça do mais novo Mr. Dashwood. O comportamento incisivo e desagradável estende-se também ao filho mais velho, que vai passar uma temporada com a família. A situação torna-se tão insustentável que as irmãs Dashwood, juntamente com a mãe, resolvem se mudar. Porém, achar um lugar que seja possível custear considerando a pensão por elas recebidas é um desafio, que acaba sendo superado graças ao contato de um parente de Mrs. Dashwood (mãe), Sir John Middleton.

Uma nova casa, novos vizinhos, amigos e uma vida social ativa é o que as aguarda. Da casa anterior, guardam as recordações dos bons momentos e, para Elinor, a possibilidade de casamento com Edward, que não declara suas intenções, mas a família toda está convencida dos sentimentos do rapaz que, tímido como é, e com a mãe e irmã fazendo a sua cabeça, não é capaz de se declarar.

Das novas amizades, podemos destacar o Coronel Brandon, amigo íntimo de Sir Middleton, que se encanta com Marianne, porém por ser muitos anos mais velho é rejeitado por ela; Mrs. Jennings, uma viúva que já casou todas as filhas e é adepta à vida social, sempre visitando amigos e oferecento bailes, além de alimentar as fofocas da sociedade e estar sempre procurando pretendentes para as meninas; por fim John Willoughby, belo rapaz sobrinho de uma vizinha das Dashwood e de Sir Middleton, que atrai a atenção de Marianne pela beleza e jeito despojado. Tal como ocorreu com Edward, a família acredita em um casamento entre Willoughby e Marianne, mesmo que a proposta não tenha sido feita.

Porém, as ações mais importantes ocorrem em Londres, para onde partem Mrs. Jennings, Elinor e Marianne, a convite da primeira. Dado o afastamento ocorrido antes da partida das irmãs para a capital tanto de Edward quanto de Willoughby, especula-se o motivo de cada um para tal atitude.

Neste ponto a diferença de comportamento entre as irmãs, que praticamente vivem a mesma situação, dá o tom da narrativa. Sendo Marianne uma pessoa impulsiva, que prefere expor abertamente seus sentimentos, resolve procurar o amado e trazê-lo para junto de si. Em contrapartida, Elinor é mais reservada, mesmo ao ser avisada da presença de Edward na cidade, prefere deixar o destino cuidar de uma possível aproximação entre eles. Porém, nem tudo são flores e cada uma tem seus motivos de preocupação, agravados pelas descobertas que fazem na capital.

Razão e Sensibilidade é sobre sentimento, comportamento, relacionamento. A ação não é protagonista, apenas conduz as personagens no seu desenvolvimento. Por tratar-se de um romance feminino e considerando a época em que viveu a autora, alguns elementos são presença obrigatória. É um drama familiar, existe o romance, o mistério em torno do sujeito desconhecido, as convenções da sociedade. E também não pode faltar a “doença dos nervos” (e aqui um parêntese, pois muitos acham que trata-se de uma doença feminina, mas na verdade é da humanidade e poucos foram os autores que tiveram coragem de expor personagens masculinos sofrendo de tal mal. Falarei sobre isso na resenha de Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, aguardem).

Fonte: Divulgação Amazon

Gostei muito da edição bilingue. Ao contrário de outros clássicos no mesmo formato que já li, como “O Conde de Monte Cristo” ou “Dracula”, onde os capítulos em português precedem os em inglês, nesta os capítulos são alternados, primeiro em inglês seguido do português. Para quem quer estudar um pouco do outro idioma é uma boa oportunidade, eu mesma cheguei a ler alguns trechos no original antes de partir para a tradução. Mas quem não se interessa pode sentir um leve incômodo em ter que usar com frequência os recursos de saltar entre os capítulos.

É um livro enorme, são 735 páginas divididas em 50 capítulos (somando os dois idiomas, portanto, um pouco mais de 360 páginas para cada um). Porém, a leitura é agradável. Creio tê-lo completado em sete dias, mas reforço que sou uma bookaholic, ou seja, quando começo uma leitura é praticamente impossível parar.

A edição digital está disponíveis para assinantes tanto do Kindle Unlimited quanto do Amazon Prime Reading. Para visualizar na loja da Amazon, basta clicar na imagem acima ou acessar este link. Comprando através deste link você estará contribuindo com nossa parceria e apoiando o blog.

Ficou curioso para saber mais detalhes? Leia, vale a pena, é um romance inteligente e o final recompensa o leitor por tantas páginas de angústia.

Resenha: Procrastinação – Guia científico sobre como parar de procrastinar (definitivamente) – e opinião

Aproveitando que a quarentena me propiciou mais tempo para pensar em mim e buscar melhorar como pessoa, separei alguns livros sobre comportamento para me ajudar nessa empreitada.

Sempre me considerei procrastinadora, seja para marcar uma consulta médica, para fazer os exercícios físicos diários ou aquele curso online que promete revolucionar a carreira. Em contrapartida, meu foco é muito bom, portanto, se começo uma atividade, vou tranquilamente até o fim. Nesse período de pandemia essa característica ficou bem aparente, uma vez que poderia estar aproveitando o tempo de sobra para coisas úteis, mas, bem, não é isso que está acontecendo. O alerta amarelo ligou e acho que é hora de agir.

Para ilustrar, uma pequena historinha. Na época que eu usava aparelho dentário, minha dentista sempre ficava furiosa porque eu sempre esquecia as consultas. O ritmo de trabalho e estudos era o suficiente para o meu cérebro entrar em modo automático e, confesso, foi uma época turbulenta, eu só queria continuar assim. Brinquei com ela que meu nome deveria ser Inércia. Mal sabia eu que definia muito bem meu problema, como veremos daqui a pouco.

Livro Procrastinação
Fonte: divulgação Amazon

De todos os métodos discutidos, alguns me chamaram a atenção, dado o grau de novidade ou de confirmação daquilo que já sabia, mas não dava muita confiança. Quero falar um pouco deles.

1. Método 25/5

Ele é bem conhecido por quem acompanha o mercado financeiro. Se você já ouviu falar de Warren Buffett, provavelmente também conhece o método 25/5, amplamente divulgado por ele. Resumidamente, é uma forma de planejamento com prioridades. Você traça 25 metas par um período, normalmente um ano, seleciona as cinco mais importantes e forma uma segunda lista. Essa segunda lista terá seu foco e seus esforços a maior parte do tempo. Se você ficou curioso, tem muito material na internet explicando, mas como estou boazinha hoje, vou deixar o link de um texto que explica de uma forma bem simples aqui.

Traçar metas e definir muito bem seus objetivos é algo que impulsiona as pessoas a cumprirem com mais afinco suas tarefas, isso porque saber onde se quer chegar é um estímulo, mas não é palpável. Definir qual caminho seguir ajuda nosso cérebro a continuar estimulado a cada vitória alcançada. Difícil entender? Nem tanto. Certamente você já ouviu a frase “vamos por parte, Jack”. Quem é programador sabe que aquele software maravilhoso não vai nascer maravilhoso. É preciso dividir o projeto, planejar os recursos, desenvolver e testar cada um deles, começando pelos itens essenciais, aqueles que são o cerne do projeto, para no fim concluí-lo com uma aparência agradável, ou como chamamos “perfumá-lo”. A mesma ideia quando se quer construir uma casa, não dá para pensar em decoração sem antes levantar as paredes. Se você quer ter 1 milhão de reais em 10 anos, divida-os em metas anuais de economia e os aportes mensais (não se esqueça de considerar os juros). Ao final de cada etapa, avalie seus resultados e permita-se uma recompensa pelos bons resultados.

2. Planejamento diário

Se o seu problema não são apenas os projetos futuros, mas aquelas atividades do trabalho ou estudo que sempre ficam para o último prazo, organize seu dia antecipadamente. Ao final do expediente, avalie o que deve ser realizado no dia seguinte e faça uma lista com seis itens. Mantenha a lista visível e comece seu trabalho pela primeira.

O planejamento pode ser temporal ou por prioridades. O importante é manter o foco nessas atividades. Uma ferramenta que pode auxiliar é a técnica Pomodoro, uma versão 25/5 para o tempo, ou seja, faça 25 minutos de trabalho e descanse 5 minutos. É uma forma, também, de fazer o cérebro assimilar tudo que foi feito, trabalhando no modo focado/difuso. Essa técnica traz bons resultados quando aplicada aos estudos (o marido atesta).

Oi, eu sou o Pomodoro da Thaís!
Oi, eu sou o Pomodoro da Thaís!

Definiu as tarefas, mas não sabe como priorizar? A dica do livro é usar a matriz de Eisenhower. E se você nunca ouviu falar, dá uma olhada aqui que tem uma explicação resumida e direta. É uma ferramenta tão simples e poderosa que é amplamente usada na indústria no desenvolvimento de novos produtos.

Matriz Eisenhower. Fonte: advanteach.com

Até aqui você já percebeu que planejamento é a palavra chave para acabar com a procrastinação, certo? Pois é, mas não tem como escapar disso. No começo vai ser difícil, você vai errar a mão e vai parecer impossível. Mas é importante persistir. E aqui a gente começa a falar de outro método.

3. Crie hábito

Pesquisas mostram que uma atividade realizada por 21 dias torna-se um hábito. Realizada 90 dias consecutivos, nosso cérebro executa em modo automático. Ou seja, é preciso persistir e se obrigar a fazer tudo como planejado.

A primeira vez que ouvi falar da técnica dos 21 dias associava ao hábito de sempre reclamarmos de tudo. Saio de casa, reclamo do mau-humor do porteiro, do trânsito, do café da manhã… uma sucessão de reclamações que não têm fim e que só fazem mal para quem pensa e fala. Nada vai mudar. Ou melhor, só você pode mudar. Fique 21 dias sem reclamar e perceba a diferença.

Se você quer ser um escritor, imponha-se uma meta de páginas escritas por dia. Quer ter uma vida saudável? Vá à academia, que eu sei que você pagou e não foi, e peça ao instrutor que faça uma sequência de atividades que mais te agrade. Não tem dinheiro para a academia? Separe 40 minutos todos os dias e vá caminhar, escolha um lugar que você goste de ir. Associe coisas agradáveis à atividade. Eu, por exemplo, ouço meus podcasts favoritos enquanto caminho (que já listei aqui).

Dica extra: imprima um calendário bem grande e cole na parede. Ao concluir a atividade, marque com um X vermelho o dia. Sugiro o modelo a seguir, vá a uma gráfica/papelaria e peça impressão em folha A0 (841 x 1189 mm). A ideia é que o progresso esteja sempre visível para estimular nosso cérebro.

Calendário anual
Fonte: icalendario.br.com

4. Questione-se

Calma que estou acabando, não vou transcrever o livro todo.

Essa foi a técnica que mais me surpreendeu e que valeu a leitura. Se você chegou até aqui e ainda assim não sabe por onde começar, questione-se. Olhe-se no espelho e faça a pergunta em voz alta: você vai se exercitar hoje? Quantas páginas/palavras você vai escrever hoje? Você vai entregar aquele relatório importante hoje? Veja-se respondendo. Seja sincero, goste ou não da resposta. Se não gostar, aja para mudar. Faça um compromisso consigo, afinal, antes de agradar o chefe, a mãe, o marido/esposa, é preciso estar satisfeito consigo mesmo.

Aproveite e questione-se como foi seu dia. Procure listar aquilo que foi bom e ruim e o porquê. Se foi bom, repita. Se foi ruim, avalie os motivos e trabalhe numa estratégia para que no dia seguinte tudo seja diferente. Se você acha que perdeu muitas horas em redes sociais, desinstale aplicativos ou deixe o celular fora de vista. Tem umas técnicas de bloqueio no computador também. Arrumou desculpa para não se exercitar? Sinceramente, você ficou satisfeito com ela? Você vai usar a mesma desculpa amanhã? E depois? Se ficar chato e tiver que mudar é porque não é uma desculpa realmente válida.

Conclusão

Já dizia vovó, de boa vontade o inferno está cheio. Ter força de vontade para parar de procrastinar é só o começo, a ponta do iceberg (já que estamos abusando dos ditados populares). É necessário ter um comprometimento.

A procrastinação tem muito a ver com o nosso emocional, se estamos bem, ela quase não interfere, caso contrário, ela vira uma válvula de escape. Nos sentimos bem no momento, mas a longo prazo os efeitos são piores. É uma bola de neve sem fim. E com a bola de neve pode vir uma avalanche, certo?

Particularmente, acho que essas são técnicas que funcionam comigo. Ok, ainda não apliquei todas, mas já usei (de forma errada) em alguma época. Este texto, por exemplo, é resultado dos aprendizados obtidos. Ainda não consegui fazer o planejamento da quarentena, tenho livros, cursos, exercícios físicos, o blog para gerenciar. Está sendo uma luta diária, mas percebo que a cada dia fico menos tensa e mais confiante nas minhas decisões.

Falando um pouco mais sobre o livro, já que o artigo era para ser uma resenha, tenho duas considerações a fazer: a primeira sobre o conteúdo, a segunda sobre a autora.

Primeiro, gostei do livro pela ideia de trazer comprovação científica e não simplesmente dizer “funcionou comigo, tenta aí também”. Porém, achei as referências fracas, não no sentido dos pesquisadores, mas de conexão mesmo. Explico: numa época tão digital como a nossa, senti falta de links para outros conteúdos digitais que pudessem auxiliar no aprofundamento do assunto. A facilidade em referenciar outros conteúdos é muito simples, no sentido de ferramentas. Dá trabalho pesquisar, mas o resultado traz maior credibilidade. A sensação geral que tive foi que o livro foi resultado de um trabalho de conclusão de curso, posteriormente adaptado para o mercado de massa.

E em segundo lugar, falta referências sobre a autora. Não há uma microbiografia na edição digital e também não encontrei na Amazon nem no Skoob. Não há nenhuma referência a redes sociais dela. O nome comum não colabora. Portanto, não consigo correlacionar a área de pesquisa dela com o conteúdo do livro. Se você tiver mais informações, deixa nos comentários, por favor.

A edição que li está disponível na assinatura Prime Reader. São 153 páginas com uma diagramação contestável, mas não insuportável.

Resenha: Justiça

Falar sobre justiça é sempre muito difícil porque cada um de nós pode interpretar o que é justo de forma diferente. Por isso é bom entender quais são os conceitos e definições envolvidos no tema.

A universidade de Harvard possui um curso denominado “Justice” altamente concorrido, que relaciona grandes questões da filosofia com o cotidiano, ministrado por Michael J. Sandel. Deste curso surgiu o livro de mesmo nome, uma compilação dos temas abordados em sala, acessível para todos. É um livro amplo, que cita grandes filósofos, de Kant, Rawls a Aristóteles, e usa exemplos atuais. É uma leitura para se fazer com calma, como um estudo dirigido.

Livro "Justiça"
Fonte: Divulgação Amazon

A discussão se inicia com apresentação de três maneiras de se pensar sobre justiça:do ponto de vista do bem-estar, da liberdade e da virtude.

O conceito de bem-estar é o pilar das teorias utilitaristas, que definem que a justiça só é alcançada quando mais pessoas estão felizes. Portanto, cada situação deve ser analisada de forma com que o maior número de pessoas sinta-se bem. O exemplo usado é o do trem desgovernado que tem dois caminhos a seguir, o primeiro mata cinco trabalhadores, o segundo apenas dois. Segundo o pensamento utilitarista, matar dois é melhor do que cinco, já que mais famílias receberão de volta seus entes. Ainda, considerando o trem desgovernado, considera-se a possibilidade de um espectador poder se jogar em frente ao trem para pará-lo, mas devido ao seu baixo peso e, portanto, a pouca possibilidade de sucesso, empurrar em seu lugar alguém mais gordo. Uma só pessoa morre e o trem é parado. Mas e se a pessoa não escolheu se jogar, outro pode decidir por ele?

Sem me alongar nos exemplos, porque a leitura é muito prazerosa, apesar de difícil, quero citar outros temas abordados.

Distribuição de renda

O Brasil é considerado um país de muitas injustiças, a principal dela é a desigualdade social e a distorcida distribuição de renda. Mas veja como Sandel apresenta a situação nos Estados Unidos:

[…] mais de um terço da riqueza do país está nas mãos de 1% dos americanos mais ricos, mais do que a riqueza dos 90% menos favorecidos junta. Os 10% de lares no topo da lista represetam 42% da renda e mantêm 71% de toda a riqueza. A desigualdade econômica é mais exorbitante nos Estados Unidos do que nas outras democracias. [p. 77]

Ainda assim, o “sonho americano” é objeto de desejo no mundo inteiro. Onde estamos errando? Nosso país é rico em recursos naturais, tem um clima agradável, somos bem localizados geograficamente, um costa imensa para o  Atlântico, um dos oceanos mais propícios a navegação, e mesmo assim nossa economia patina ano a ano e nossos pobre são cada vez mais pobres. A desigualdade aqui é mais para baixo, uma vez que nossos ricos não são tão ricos quanto os americanos.

Mas aí alguém pode argumentar: nosso povo é considerado um dos mais receptivos do mundo, povo alegre e acolhedor, não fazemos guerra, não somos preconceituosos, amamos a todos igualmente. Será? Tenho mais medo do sentimento velado daquele que é escancarado. Formar uma ideia de si mesmo ocultando os nossos piores sentimentos não é uma forma justa de se apresentar ao mundo, ao meu ponto de vista.

Seguindo, ainda sobre a questão da distribuição de renda, quem tem mais dinheiro é merecedor? O talento de um jogador, que no exemplo do livro é um jogador de basquete, mas em terras tupiniquins podemos facilmente assimilar a um jogador de futebol, é mérito dele? O que ele recebe por jogar deve ser, obrigatoriamente, redistribuído na sociedade? E essa redistribuição pode vir de diversas formas, seja na obrigatoriedade no financiamento de projetos sociais ou na cobrança de altas taxas de imposto. A mesma analogia vale para grandes empresários e o esforço do trabalho para acumulação de riqueza.

Liberdade econômica

Justiça também tem a ver com política. Há quem defenda que o cidadão só é livre ao poder fazer suas escolhas, seja com o dinheiro que recebe, nas transações comerciais ou nas escolhas do estilo de vida e comportamento. Estas mesmas pessoas defendem que a menor interferência do Estado garante maior liberdade. Em contrapartida, há que apoie a intervenção do Estado para garatir o equilíbrio da negociação, para que não exista exploração e que todos os lados saiam ganhando, garantindo, assim, o objetivo primordial da negociação. Quando e quanto o Estado deve intervir ainda é o maior ponto em questão.

[…] o economista americano Milton Friedman (1912-2006) argumentou que muitas atividades estatais amplamente aceitas são infrações ilegítimas A previdência social, ou qualquer outro programa governamental obrigatório, é um de seus principais exemplos: “Se um homem conscientemente decidir viver o dia de hoje, usar seus recursos para usufruir o presente, escolhendo livremente uma velhice mais penosa, com que direito nós o impedimos de fazer isso?” [p. 80]

Em outro trecho ele cita Robert Nozick:

“[…] apenas um Estado múnimo, limitado a fazer cumprir contratos e proteger as pessoas contra a força, o roubo e a fraude é justificável. Qualquer Estado com poderes mais abrangentes viola os direitos dos indivíduos de não serem forçados a fazer o que não querem, portanto, não se justifica. [p. 81]

Além disso, ao tirar o direito a propriedade através de impostos, privando o indivíduo de usufruir seus ganhos, caracteriza-se que o cidadão deve trabalhar para o Estado, contra a sua vontade, portanto pode-se considerar escravo.

Aborto e casamento homoafetivo

Mais um tema que está implicitamente conectado ao anterior. A decisão para ambos ainda está nas mãos do Estado. Mas aqui, pode-se ainda destacar a relevância da religião. Questiona-se se a intervenção do Estado nestes assuntos não priva a liberdade de escolha do indivíduo, afinal, uma coisa é ser contra e não querer para si nem para os demais, outra é ser a favor e poder escolher entre praticar ou não. Novamente discute-se sobre o objetivo primordial do casamento e da possiblidade de se estar praticando um homicídio contra um indefeso.

Homicídio assistido e suicídio

Existe quem defenda que o suicídio também é uma forma de homicídio. Que a vida humana não pode ser tirada em qualquer hipótese, mesmo quando a vida pertence a mim e eu decido que não a quero mais. Em favor deste pensamento, considera-se o impacto que tirar uma vida pode causar em muitas outras, seja na família ou na comunidade.

Células tronco embrionárias, barriga de aluguel, venda de órgãos

Há algo em comum entre esses assuntos: a ciência. É tema cada vez mais recorrente falar sobre ciência e seus limites. Não podemos negar que o conforto que temos hoje deve-se em grande parte pelo desenvolvimento científico. Experiências com animais e seres humanos sempre foram questionáveis, porém cada vez mais inconcebíveis. E já que estamos no meio de uma pandemia, essa discussão não poderia faltar. Com o mundo todo à procura de uma vacina que nos permita retomar a vida normal, a cada dia que passa a economia se desintegra mais, pessoas sem trabalho já necessitadas, outras tantas em vias de perderem seus empregos, até onde o apoio à queima etapas no processo científico é válido? E sobre meus órgãos? Eles são meus, posso decidir quando um rim vale uma faculdade para meu filho?

Imigração, nacionalismo e guerras

Ao falar de justiça, precisamos entender que a realidade de alguns não é a de todos. A cultura é fortemente influenciadora de justiça. Aqui podemos entender claramente onde a virtude e, novamente, a religião têm participação no processo. Voltemos ao “sonho americano”, o governo dos Estados Unidos, bem como outras nações, garante benefícios aos seus cidadãos, mas não aos imigrantes. Isso pode ser defendido como discriminação. Mas não devemos proteger ao próximo antes de dar assistência ao de fora? Vale para o imigrante ou o novo vizinho que acabou de chegar de uma cidade diferente. O exemplo que o livro traz é esclarecedor, em uma hipotética situação em que seu filho e o do vizinho esteja em apuros, quem você tentará salvar? A resposta parece meio óbvia, já que nossos instintos dizem para proteger nossos filhos. Porém, o salvamento só é válido se para isso não prejudiquemos o outro.

Para aqueles que defendem a aceitação de imigrantes por meio do pagamento de uma soma em dinheiro costuma-se indagar se há um valor justo para isso. Da mesma forma, a contratação de soldados, dispensa por meio do pagamento ou representação por outra pessoa. Há uma clara tendência em que os mais pobres sempre estejam dispostos a arriscar a vida em troca de grandes somas de dinheiro que sabem que não poderão conseguir com seu trabalho. É uma forma de garantir o futuro da família. E por que não contratar mercenários? Pessoas de outras nacionalidades que estejam dispostas a lutar em troca de dinheiro. Pode-se questionar a lealdade, mas também pode-se cobrá-los através de um contrato.

Conclusão

Esses são apenas resumos de alguns temas abordados em “Justiça”. O que Sandel faz é mostrar os dois lados da moeda e as diversas interpretações que cada um deles tem. Justiça está presente em nosso dia-a-dia e não dá para ignorarmos os efeitos que a falta dela pode causar. Nem sempre tomamos a atitude mais correta, mas é importante estarmos atentos a isso e aprendermos com nossos erros. Procurar entender o outro e aprender a agir com maior discernimento é o desafio atual, habilidade que parece que estamos perdendo. Além de nos adaptar ao mundo cada vez mais vigiado e atento às nossas atitudes, precisamos dar espaço ao autoconhecimento e na construção de seres humanos melhores.

Fica aqui registrado meu apreço por esta obra e a recomendação para uma boa leitura/estudo. Todos deveriam dedicar algum tempo para estudos como esse, como forma de procurarmos sermos melhores pais, filhos, cidadãos, amigos.